Gás de cozinha tem alta e complica orçamento de famílias brasileiras
Produto acumula alta de preço de 17,25% nos últimos 12 meses.
04/06/2021 - 09:13
Produto essencial nas residências, o gás de cozinha pesou ainda mais no bolso das famílias mais pobres neste período de pandemia de covid-19. Nunca antes o botijão custou tão caro. Desde maio do ano passado, no início da crise, seu preço subiu cinco vezes mais que a inflação. Com o desemprego batendo à porta, o custo do gás virou um problema social, a ponto de merecer políticas públicas emergenciais dos governos do Ceará e Maranhão.
O tema foi tratado também pelo presidente da República, que manifestou a intenção de recorrer à Petrobras para baratear o produto. Mas, até agora, não houve qualquer manifestação pública do governo federal e da empresa sobre isso.
O preço do botijão disparou, de fato, a partir do segundo semestre do ano passado. O pior momento, no entanto, foi neste ano. De janeiro a abril, subiu 11,45% e nos 12 meses iniciado em maio de 2020, 17,25%, segundo o IPC-S, indicador de inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), utilizado em reajustes salariais e de aluguel. No mesmo período, a inflação subiu 3,5%, cinco vezes menos do que o gás de cozinha.
“O GLP é o principal energético usado no preparo de alimentos por famílias de baixa renda. É o gás que entra em comunidades do Brasil todo. Algo que sobe mais que a média do salário exige muito esforço das famílias. Num nível de desemprego elevado como o atual, é ainda mais sentido. Ficar sem gás é ficar sem comida”, afirmou André Braz, coordenador adjunto do Índice de Preço ao Consumidor do Ibre/FGV.
O economista acredita que o encarecimento do produto vai aparecer na próxima Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE. A última foi realizada em 2018 e registrou que a média dos brasileiros gasta 1% do orçamento com o gás de cozinha. O aluguel pesa 3,6% e o gás natural, 0,12%.
Na casa de André Lima e Silva, em Fortaleza, por causa da alta do preço do botijão, as refeições passaram a ser preparadas na vizinhança. “Até receber o vale do governo, a gente ficou três dias sem gás. Até o mingau da neném a gente pedia para a vizinha fazer”, conta o padeiro, desempregado desde o início do ano passado. Sem renda, ele e a mulher passaram a sustentar os cinco filhos com a venda de salgadinhos. Mas, por causa do preço do gás, até o ‘bico’ ficou inviável.
A alta do produto está prejudicando também os negócios de Marcos Magalhães, responsável por um buffet carioca. “O gás aumenta, a gente tem que repassar o valor para os clientes, só que não pode repassar na íntegra, porque, infelizmente, os clientes não têm aumento. Ninguém está tendo aumento no País. É complicado”, afirmou.
Em evento, no mês, passado Bolsonaro disse que conversaria sobre o tema com o novo presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna. “Estamos trabalhando com o novo presidente da Petrobras em como diminuir o preço do botijão na origem. Hoje está em R$ 42, dá para diminuir”, afirmou o presidente, em discurso no Mato Grosso do Sul, no último dia 14. Ele não informou, porém, com quem está discutindo e a posição do presidente da Petrobras ao seu questionamento.
Desde que assumiu o cargo, em 19 de abril, Silva e Luna não mexeu no preço do gás liquefeito de petróleo (GLP) produzido em suas refinarias. O botijão de 13 kg é a versão residencial do produto. O último reajuste aconteceu no dia 2 de abril, o quarto no ano, ainda na administração do seu antecessor, Roberto Castello Branco.
Questionada, a Petrobras, por meio de sua assessoria de imprensa, respondeu que não há previsão de reajustes de preços de GLP com frequência mínima mensal. “Reiteramos que os reajustes são realizados a qualquer tempo, sem periodicidade definida, de acordo com as condições de mercado e de análise do ambiente externo. Isso possibilita à companhia competir de maneira mais eficiente e flexível e evita o repasse imediato, para os preços internos, da volatilidade externa causada por questões conjunturais”, afirmou.
Ainda assim, o preço final do GLP permanece no patamar mais elevado da série histórica divulgada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em março, último dado divulgado pela reguladora, estava custando R$ 83,17, na média do País. Como a Petrobras reajustou mais uma vez em abril, é possível que a estatística mais recente ainda revele novo recorde.