Mesmo com quarentena, Brasil tem alta de 6% no número de assassinatos no 1º semestre

Mesmo com quarentena, Brasil tem alta de 6% no número de assassinatos

21/08/2020 - 09:55

O Brasil teve uma alta de 6% nos assassinatos no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. É o que mostra o índice nacional de homicídios criado pelo G1, com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.

Em seis meses, foram registradas 22.680 mortes violentas, contra 21.357 no mesmo período do ano passado. Ou seja, 1.323 mortes a mais.

O aumento de mortes acontece mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, que fez com que estados adotassem diversas medidas de isolamento social. Ou seja, houve alta na violência mesmo com menos pessoas nas ruas.

Além disso, a alta de mortes neste ano interrompe uma tendência de queda no país nos últimos anos. Tanto 2018 quanto 2019 tiveram recorde de baixas nos assassinatos. No ano passado, por exemplo, a queda chegou a 19%, e o número total de vítimas foi o menor desde 2007, ano em que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a coletar os dados.

O Nordeste, que havia puxado a queda dos últimos anos, foi o responsável por puxar a alta nos seis primeiros meses de 2020. Os assassinatos na região cresceram 22,4% no semestre. Em outras três regiões (Norte, Centro-Oeste e Sudeste), o número de crimes violentos foi menor na comparação com o ano passado.

Os dados apontam que:

 

  • houve 1.323 mortes a mais nos primeiros seis meses de 2020
  • 17 estados apresentaram alta de assassinatos no período
  • estados tiveram altas superiores a 15%: Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Maranhão e Ceará
  • o Ceará, aliás, teve aumento de 102,3% nas mortes do primeiro semestre
  • a região Nordeste foi a grande responsável pela alta no país: 22,4% de aumento
  • em outras três regiões (Norte, Centro-Oeste e Sudeste), o número de mortes caiu

 

O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Pandemia do coronavírus e isolamento

 

O mês de março foi o período em que a pandemia do coronavírus ganhou força no Brasil. A primeira morte foi registrada em São Paulo antes da primeira quinzena.

Foi também o mês em que vários estados começaram a aplicar medidas de fechamento de comércio e isolamento social. O Rio de Janeiro publicou um decreto com as medidas de restrição de circulação e funcionamento dos serviços em 17 de março. Já São Paulo adotou a quarentena a partir de 24 de março.

Já em abril, maio e junho, praticamente todo o Brasil conviveu com medidas de isolamento social. Mesmo com a circulação de pessoas mais restrita, porém, houve um aumento de 8% no número de assassinatos em abril, o que chamou a atenção. Em maio, em comparação com o mesmo mês de 2019, o número de assassinatos ficou estável (-0,2%). Já em junho, houve novamente uma alta de 1,9%.

Os dados acompanhados mensalmente pelo Monitor da Violência não incluem as mortes causadas em decorrência de confronto policial, ou seja, de pessoas mortas pela polícia. Mas índices divulgados por alguns estados apontam que também houve aumento desses casos.

Em São Paulo, por exemplo, 498 pessoas foram mortas por policiais militares em serviço e fora de serviço no primeiro semestre deste ano, contra 414 no mesmo período de 2019. O aumento chega a mais de 20%.

Para Samira Bueno e Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, chama a atenção em todo esse cenário "o fato de que, enquanto os governos – federal e estaduais – têm tido enorme dificuldade de prevenir ou reduzir a violência em seus territórios, o crime organizado continua sendo o ator fundamental que impulsiona as dinâmicas criminais no Brasil, em especial os crimes contra a vida".

Fonte: G1